quarta-feira, 28 de maio de 2008

Procurando

Calor infernal. O fato de estarmos numa sombra e em pé não ajudava muito. Estávamos há horas em pé conversando sobre vários assuntos, esperando chegar o nosso número na fila. Tinha umas centenas de pessoas na nossa frente (Não, eu não estou exagerando. Eram centenas de pessoas mesmo). Então, do nada, como sempre ocorre comigo, aparece uma garota perguntando:

- Qual é a sua senha?
- A minha é 361. Mas eu não estou na fila ainda. Nós só entramos na fila quando a nossa senha está perto. Aí saímos perguntando até achar o nosso lugar na fila. Qual é a sua?
- 390.
- Bom, então ainda falta tanto quanto falta para nós.
- Ah tá.

Bom, eu não sou alguém perceptivo em termos de pessoas, mas eu percebi que tinha algo errado. Ela perguntou e ficou lá, olhando pra minha cara. Após alguns segundos silenciosos, onde eu estava me perguntando qual era o problema, eu resolvi puxar conversa, só pra ver se eu estava certo.

E estava. Conversando com ela, descobri que ela veio sozinha lá do inferno (pra mim, o profissional é lá no inferno) pra almoçar aqui. E, como a maioria dos humanos, não queria almoçar sozinha no meio de tanta gente. Percebendo isso, fiz companhia a ela com gratidão, porque ela realmente sabia conversar. Foi de aspirações profissionais à possessões demoníacas, onde acabamos todos nos enturmando.

Após tanta conversa, eu fui ver a minha senha junto com o meu amigo. Tinha passado. A garota deu sorte porque ela chegou em tempo. Voltamos pra pegar senhas novas. Olhamos para as nossas senhas 640 e 641.

Bom, acho que não é só com as pessoa que eu não percebo algumas coisas.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Perdidos

Sabe, desde a última vez que eu postei aqui muita coisa aconteceu. Acontecimentos engraçados, situações tristes, frases perfeitas, respostas na lata. Muito disso merece um registro aqui, mas cada vez mais eu percebo que certas situações não podem ser transpostas num texto.

Voce pode descrever cada pequeno detalhe, narrar o acontecimento perfeitamente, mas ainda assim não conseguirá chegar aos pés do original. Certos acontecimentos ficam na memória dos envolvidos para sempre, sendo que estes serão capazes de lembrar de tudo o que sentiram no momento.

São momentos que se perdem nos registros históricos, mas sobreviverão enquanto os envolvidos existirem. É como o "Olé, Touro" que o Lyra aplicou no Pigmeu na piscina. Quem não conhece estes dois já perdeu grande parte da história. Quem os conhece precisaria saber o foi que aconteceu na piscina. Mesmo assim, só quem estava lá saberá o quão engraçado foi. Tornou-se um mito, como foi dito pelo próprio Lyra.

Talvez toda a nossa vida seja isso. Um mito. Algo que será arquivado em fotos, vídeos, relatos, memórias, mas que não terá significado nenhum perto do original. Enquanto não criarem algo capaz de simular emoções, esses mitos se perderão pra sempre em arquivos coloridos.

Enquanto isso, continuaremos vivendo nossas próprias lendas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Indiferente

Numa certa segunda-feira pela manhã, eu estava indo em direção ao Cefet. As aulas já tinham acabado, pelo menos para mim, e eu estava indo pra lá apenas pra pegar o meu certificado de conclusão. Não esperava encontrar muitos colegas, até porque eu ficaria por lá rapidamente. Porém, muitos deles estavam reunidos em frente a uma sala de aula, conversando. Parei apenas para cumprimentar e passar o tempo.

Todos estavam sem os seus uniformes, assim como eu. Pela primeira vez, não fazia questão alguma de vesti-lo. Não era mais aluno de lá, não pertencia mais aquela instituição. Por três longos anos fui obrigado a usar aquela bata azul. Gostava dela, devo admitir, mas o que ela representava nem de longe me agradava. Portanto, naquele dia, ninguém nesse planeta iria me obrigar a vesti-la novamente. Podia estar ali, mas não mais como um aluno.

Passei um bom tempo conversando, talvez esperando que o último dia fosse capaz de despertar algo. Nada. Indiferente a toda situação, apenas suspirei e peguei o que precisava. Além da experiência, a única coisa boa que eu adquiri de lá foram os meus amigos. Como nenhum dos dois pertenciam mais ao Cefet, apenas sai de lá olhando pra frente, sem a menor vontade de voltar ou de olhar pra trás, ouvindo música e já pensando em qualquer outra coisa que valesse a pena pensar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Alguns ajustes

Faz um tempo que eu não posto aqui. Problemas e problemas. Acho que o meu irmão transmitiu a sua desvatangem para todos da família temporariamente, pois o computador sofreu uma série de defeitos no menor tempo possível. E o pior é que eles só aconteciam quando um era resolvido, impossibiltando que todos fossem excomungados de uma vez.

Muitos eventos ocorreram durante esse tempo. Alguns deles merecem ser documentados, para posteriormente serem lembrados. E, para tanto, irei postar acontecimentos não tão recentes, mas que eu certamente gostaria de lembra-los ao ler aqui no blog.

É isso. Que comece o ano de 2008 nesse blog.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Teimosias

Após chegar em casa, a noite, com o único e simples objetivo de dormir, eu acendo a luz e me deparo com o novo aquário dentro de casa. Não sei quem foi que deu este peixe para a mamãe, mas tenho certeza que pensaria duas vezes antes de fazê-lo se soubesse do destino desse pobre animal. E o pior de tudo é que ela será teimosa o suficiente para não abrir mão do peixe e dirá ainda que tomará conta dele. E eu não quero um cadáver aqui em casa, mesmo que seja de um pequeno animal.

Então, apesar de estar cansado, vou à cozinha, tomo um pouco de água e penso se peixes podem comer trigo. Se não, este aqui em casa vai ter um problema, porque pão foi a primeira coisa que eu encontrei e a única que eu irei procurar. Ou ele come isso ou ele morre, já que provavelmente passou o dia inteiro sem comer. Após fazer algumas migalhas, vou até o aqúario e vejo o peixe inerte. Fico observando-o por alguns segundos, esperando alguma reação. Nada. Penso se o infeliz já morreu antes da hora. Apesar disto, fico jogando as migalhas dentro do aquário. Então, segundos depois, ele mexe uma parte da cauda. Pronto. É o suficiente para saber que ele está vivo.

Após me preparar pra dormir, volto pra cozinha e, no caminho, vejo o peixe dando voltas frenéticas pelo minúsculo aquário. Se peixes sentem emoções, aquele devia estar feliz com a sua primeira comida desde que chegou nesta casa. Ou então devia estar muito irritado porque algum idiota o acordou, apesar de não ter tocado no aquário, já que em toda loja deste tipo nas quais eu fui sempre vi um aviso: "Não toque no aquário!". Deve haver um motivo. Me explicaram também que não se deve fazer isso porque os peixes se assustam e isso faz mal pra saúde deles. Será que vendem comprimidos para dor de cabeça em tamanhos microscópicos também?
Amanhã vou tentar convencer a minha mãe de desistir da idéia de ter um peixe em casa, apesar de achar que seria mais fácil eu conseguir convencer o próprio peixe disso. Bom, não custa tentar.

Na manhã seguinte:

- Bom dia, filho!
- Bom dia
- Já viu o meu peixinho?
- Esse peixe vai morrer, mãe. A senhora não vai tomar conta dele.
- É claro que eu vou tomar conta.
- Assim como a senhora tomou conta de todas as rosas que a senhora recebeu. Pena que todas elas tenham morrido por ficarem dentro do mesmo vaso por várias semanas seguidas até ficarem da cor deste café.
- ... (ignorando)
- A senhora sabe todo o trabalho necessário para se manter um peixe vivo? Oxigenação da água, limpezas periódicas do aquário, regulação da incidência de luz, controle regular da alimentação, etc?
- ... (ignorando novamente). Ele não vai morrer.
- Então é melhor a senhora começar trocando a água, pois ela já está branca.
- É por causa da comida dele que eu dei ontem. Eu cheguei e vi ele parado. Aí eu comecei a mexer com ele até que ele se moveu. Ele ficou sozinho, o dia inteiro.
- O aquário não é tão grande assim.
- Eu vou comprar uns peixes pra fazerem companhia pra ele.
- Alguns peixes se atacam por territorialidade.
- Até os da mesma marca?
- Sim... até aqueles que tem o mesmo código de barras.

Desisto. É mais fácil eu ensinar matemática pro novo inquilino do que convencê-la de que está errada.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Poderia ter sido...

Dar a cara a tapa. É uma expressão curiosa , realmente. Após ouvi-la pela primeira vez, você a associa a ter coragem para ser criticado, para enfrentar obstáculos sem medo de se ferir. Porém, ao crescer um pouco mais, você entende o que talvez seja o verdadeiro significado desta expressão, ainda mais se você a sentiu na pele, literalmente falando, ou facialmente, dependendo da interpretação.

É uma variação da famosa "prefiro me arrepender do que eu fiz do que pelo o que eu deixei de fazer." Esta última eu considero um tanto quanto estúpida, já que ela não se aplica apenas ao campo de relacionamentos. Eu posso me arrepender pelo resto da minha vida por palavras que eu poderia ter controlado ou por ações que eu poderia ter evitado.

Agora, se você jogar essa frase apenas no campo das interações com o sexo oposto, então a idéia se torna apropriada. Muitos relacionamentos que poderiam ter iniciado simplesmente nunca existiram por causa do famoso medo de tentar. Talvez os dois fossem se casar, ter filhos e tudo o mais o que tinham direito, mas esse futuro jamais ocorreu porque nunca houve um primeiro passo.

Devo afirmar também que existem estradas de sentido único, que muitas vezes confundimos com estradas de sentido duplos e recíprocos. Porém, jamais saberemos se nunca formos até o final da estrada e descobrirmos se ela realmente volta. Se não voltar, beleza. Você não irá morrer por isso, a não ser que você seja um maluco suicida. O tempo é capaz de destruir obras muito maiores do que simples sentimentos. Logo, não deverá demorar muito.

Porém, se a estrada voltar, você irá sorrir sozinho na rua, e todos olharão pra você e pensarão que você é louco, mas o mundo ao seu redor será a sua última preocupação neste momento. E com razão. Você venceu seu medo e ganhou muito em troca desta façanha. Nada mais justo.

Mesmo que o seu carro quebre ao chegar no final da estrada, você saberá que nem tudo estará perdido. Aprendemos melhor com os nossos erros do que com os nossos acertos. E o que não nos mata, nos fortalece. Sendo assim, após aprender a lição, voltaremos mais fortes e confiantes, já que batemos lá no fundo do poço e voltamos.

Aprendemos que, nestes casos, a incerteza do "se" é muito pior do que a certeza do "não".

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Imutáveis

- Ei, Leandro, qual é o ônibus que eu pego pra ir lá pra Augo Montenegro?

- Augusto Montenegro?

- É.

- Em geral, os ônibus com a listra verde passam por lá. Tapanã Ver-O-Peso, Conj. Maguari, Icoaraci...

- Ah, tá. E onde é que eu pego?

- Aqui mesmo na Almirante.

- Tá

Minutos depois...

- Eu tenho que ir lá na Augo Montenegro pra pegar o meu título de eleitor que foram pedir lá em casa. Uma mulher chegou lá, falou não sei o quê, dizendo que tinha que pegar o meu título de eleitor pra fazer não sei o quê pra ajudar os bairros mais pobres de Belém.

- E... a senhora simplesmente entregou?

- Entreguei. Só que isso faz duas semanas e ela não veio devolver ainda.

- Hum... então parece que a senhora vai ter que ir lá buscar mesmo.

- Pois é. Ela falou que ela mora na Augo Montenegro perto de um posto de gasolina, numa casa azul, perto de sei lá o quê, uma comunidade parece.

- A senhora não tem o endereço?

- É esse que eu to falando.

- Hum... olha... a senhora tá com um problemão. Existem vários postos de gasolina na Augusto Montenegro. A senhora realmente entregou o título de eleitor pra alguém desconhecido?

- Ela falou que era de um serviço que fazia sei lá o quê que ia ajudar os bairros mais carentes de Belém, parece.

- Mas esse é o problema: ela não se identificou. E por mais que tivesse se identificado, a senhora deveria pegar algum número de contato, no mínimo o endereço. Pedia pra ela anotar num papel e deixar com a senhora, algum cartão, algo físico.

- Pois é. Mas ela até pediu o meu CPF, mas não estava com ele na hora. Então ela levou o título de eleitor.

- Porque ela não pegou apenas o número dos documentos?

- Ela falou que precisava do documento pra fazer sei lá o quê.

- Ah... tá. (Isso é muito esclarecedor, realmente).

- Mas eu entreguei porque a vizinha falou que ela era de confiança, que ajudava as pessoas mesmo.

- A senhora conhece essa vizinha?

- Conheço.

- Então vá falar com ela. Peça o endereço exato dessa mulher e peça também para ela anotar, só pra ajudar caso a senhora esqueça...

- Mas essa mulher levou os documentos de todas as pessoas da rua. Foi por isso que eu entreguei. Se ela for dar o calote, eu não vou sozinha pro fogo.

- ... (um raciocínio extremamente lógico, coerente e inteligente. Pena que eu seja tão estúpido a ponto de não comprêende-lo.)

- Eu ia lá agora procurar pela casa dela, mas acho melhor voltar pra casa.

- Eu também. ("A coragem está na ignorância". Faz sentido)

- E o pior é que depois eu fiquei pensando: como é que eu pude ser tão besta?

- Acontece...

- E depois eu falei pro meu marido. Pra quê? Ele esculhambou comigo: "Tu tá doida? Como é que tu vai entregar o teu título pra alguém que tu nem conhece? Quer dizer que se chegar alguém aqui e pedir algo, tu vai entregar?". Aí eu falei: "Claro que não! Eu não to doida".

- ... (hahahahahahahahaha)

- Aí ele continuou falando: "Tu acha mesmo que alguém vai ter dinheiro pra dar uma cesta básica pra cada morador daqui?"

- ... (Esse cara está no meu time.)

- Mas eu falei que a mulher ia devolver. Aí ele ficou calado, só me olhando.

- ... ("Não tem jeito mesmo". Acho que ele deve ter pensado isso. Eu pensei, pelo menos). Mas ela ainda não devolveu, não é?

- Não. Ele perguntou ontem: "E cadê a mulher? Já veio devolver?". Eu falei que não e ele começou a me esculhambar de novo.

- Pois é. Volte pra casa, fale com a sua viznha, peça pra ela anotar num papel o endereço desta mulher e, se tiver, um número de contato também. Depois a senhora me traga e eu verei onde é.

-Ah, tá.